Há pelo menos três anos o vôlei brasileiro tem convivido com os pontos e atuações exuberantes de Tiffany. A atleta despontou para o cenário nacional por dois motivos: primeiro por ser decisiva em quadra, mas também por ser uma atleta transexual. Desde então, há um debate sobre um possível desequilíbrio físico a favor da atleta.
Agora, após uma série de incertezas sobre a participação de jogadoras transexuais em competições internacionais, a Federação Internacional de Vôlei , presidida pelo brasileiro Ary Graça, criou pela primeira vez regras para autorizar a participação de mulheres trans nos torneios internacionais.
Quase três anos depois de barrar a possibilidade de Tifanny chegar à seleção brasileira e informar que estava realizando estudos sobre o assunto, a FIVB alterou seu livro de regras. O que aconteceu, na prática, serviu para dificultar ainda mais a vida de atletas como a jogadora que atualmente defende o Sesi/Bauru.
Em 2003, o COI (Comitê Olímpico Internacional) fez uma resolução que permitia que atletas transexuais participassem dos Jogos Olímpicos, desde que passassem pela cirurgia de redesignação sexual. Em 2016, a obrigatoriedade da cirurgia, no entanto, caiu. Ou seja, basta uma pessoa se declarar trans para ser reconhecida como tal.
Para estar apto(a) a competir em Olimpíadas, os atletas trans precisam se adequar a algumas exigências. Na regulamentação do COI, a atleta trans deve se identificar como tal há pelo menos quatro anos e estar há pelo menos um ano em hormonioterapia, com níveis de testosterona menor que 10 nmol/L.
Cumprindo este requisito, Tiffany foi aceita na liga brasileira, uma das melhores do mundo, mas continuou impedida de disputar jogos internacionais com a seleção brasileira, sob justificativa de que a Federação Internacional de Vôlei estava estudando melhor o caso.
Agora, o caso Tiffany ganha mais um capítulo. Segundo reportagem do UOL esporte, atletas transgênero devem se submeter ao Comitê de Elegibilidade de Gênero da FIVB, que será formado por um “perito legal”, um “perito médico” e um atleta nomeado pela comissão de atletas da entidade.
Também é regra que ao menos uma pessoa seja homem e uma seja mulher. O livro de regras não define o prazo para a tomada de decisão, nem quais os procedimentos para a “perícia”. Ainda há muita indefinição sobre como essa avaliação será feita.
O documento lista ainda que a entidade internacional pode levar com consideração “qualquer aspecto fisiológico (por exemplo, natureza da mudança, altura, peso, IMC, massa muscular), médico (por exemplo natureza e época da mudança, operação de mudança de sexo, níveis de testosterona, medições do receptor muscular, entre outros temas.
Tifanny reconhece que as regras são rígidas, mas diz entender a FIVB. “Tenho impressão que eles querem dificultar. Muita gente acha que é apenas um ano de hormônio e já pode ir para o feminino, ou apenas ser trans e já ir. Esquece que existem regras e essas regras só vamos alcançar com um tempo de terapia ou cirurgia”, disse a atleta recentemente.
O rendimento de Tiffany tem caído nos últimos anos. Nos rankings da Superliga de 2019/2020 ela foi só a 17ª melhor pontuadora por sets e a 11ª pontuadora no geral. Na temporada de 2017-2018, a dos recordes, suas atuações não levaram o Bauru para além da oitava colocação — em 2016-2017, para se ter noção, o Bauru foi o 5º colocado.