A campanha do Santa Cruz na Série C é simplesmente vexatória. Na verdade, a temporada 2021 está sendo desastrosa. Eliminação na Copa do Nordeste ainda na fase de grupos (foi o lanterna de sua chave); eliminação do Campeonato Pernambucano nas semifinais para o Náutico (terminou a primeira fase na quarta colocação, atrás do Salgueiro, que ameaçou não disputar a competição e desistiu da Série D; e venceu o Afogados nas quartas de final no sufoco, vencendo nos pênaltis); e desclassificado da Copa do Brasil na segunda fase pelo Cianorte, que está na SÉRIE D.
Na verdade, o que está sendo apresentado pelo Tricolor do Arruda, na Terceirona, nada mais é do que o reflexo da temporada do clube: desorganização interna, falta de planejamento, falta de convicção no trabalho e, sim, falta de experiência daqueles que dirigem o Santa Cruz. Para gerir uma instituição do tamanho do Santa é preciso muito mais que a paixão pelo clube. É preciso conhecimento. Saber administrar todos os setores: dentro e fora de campo.
E, desde o início da atual gestão, o que foi mostrado foi justamente o contrário. Não há certeza, confiança em nada que se faz no Arruda. Em pouco tempo, troca tudo. Muda tudo. Tira, dispensa, substitui. E no futebol não é assim. É inadmissível em menos de seis meses o clube contratar 35 jogadores. Estar no seu quarto treinador na temporada (João Brigatti, Alexandre Gallo, Bolívar e Roberto Fernandes). Algo impensável para uma gestão que pregou a profissionalização do clube. Qual a linha de trabalho desenvolvida no Santa Cruz? Se, a todo instante, o que está sendo implementado é rapidamente desfeito. Não há tempo de maturação do trabalho e, nada mais amador, do que a transferência de responsabilidade. Não deu resultado? Desliga do clube e traz outro.
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Sabe o que acontece com esse tipo de atitude? Gera a falta de confiança. Gera pressão interna. Ao invés de respaldo e moral, o recado que a direção passa é que se não der resultado, quem quer que seja, deixa o clube. Algo lamentável.
NÃO FEZ O BÁSICO
O reflexo do extra-campo se vê dentro das quatro linhas. Apesar do caminhão de jogadores que chegou no Arruda, o time não rende. Não há padrão de jogo. Não há entrosamento. Algo compreensível diante de tantas trocas em tão pouco tempo de trabalho. O Santa Cruz tinha, no ano passado, um dos melhores sistemas defensivos da Série C (Maycon Cleiton, Toty, Danny Morais, William Alves e Peri ou Leonan; André). O meio de campo mais técnico da competição (Paulinho, Chiquinho, Didira). Bastava mantê-los e reforçar o elenco pontualmente. A direção fez justamente o oposto. Esfacelou um grupo que era forte.
E não adianta justificar que o salário de alguns era acima do que o clube poderia pagar. Será? É difícil acreditar vendo a lista de atletas que o Santa Cruz trouxe e em pouco tempo dispensou. Será que os gastos com esses jogadores para trazer e desligar não saíram mais caro do que manter atletas que já conheciam o clube e já tinham entrosamento em campo?
Tomara que a conta pra toda essa bagunça que o clube atravessa não seja paga com o rebaixamento para a Quarta Divisão. Não sei se o Tricolor sobreviveria a mais esse baque. Hoje, o Santa estacionou na lanterna do Grupo A, com apenas três pontos e nenhuma vitória na competição. Diante do cenário tenebroso que paira o Arruda, a manutenção na Série C seria lucro. Algo tão pouco para um clube gigante como o Santa Cruz.
* Texto opinativo do jornalista Filipe Farias, da Rádio Jornal.