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Destaque na Bienal do Rio, Pedro Bandeira terá obra adaptada ao cinema

Por EBC,

Escritor popular e reconhecido da literatura infantojuvenil brasileira, aos 83 anos, Pedro Bandeira terá sua primeira obra adaptada para o cinema, após mais de 40 anos da publicação. A Droga da Obediência (1984), sucesso de vendas a gerações, é o livro inaugural da série literária Os Karas, que tem como protagonistas um grupo de jovens detetives. 

O autor participa, nesta sexta-feira (20), às 11h, do painel “Encontro de Gerações: 40 anos de A Droga da Obediência”, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. No dia seguinte (21), às 15h, estará na Feira do Livro, na capital paulista, em um bate-papo com Andréa Del Fuego. 

“Como posso explicar um livro que tem mais de 40 anos e ainda chama a atenção de uma juventude nova, mais conectada? Quando um livro fala para o ser humano, para o sentimento do ser humano, não há nada que o derrube”, disse em entrevista à Agência Brasil.

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Autor de mais de 130 títulos e vencedor de prêmios como Jabuti, APCA e da Academia Brasileira de Letras, Bandeira tem mais de 32 milhões de exemplares vendidos, sendo 4 milhões de cópias de A Droga da Obediência

Para o escritor, essa adaptação do livro para as telas é uma felicidade. “Eu sempre pensei que poderia dar um filme, TV, vídeo, eu gosto muito de cinema. Escrevi de maneira bem sucinta, quase que já permitindo a feitura de um roteiro”, contou o autor.

Na conversa exclusiva com a Agência Brasil, Bandeira fala sobre a alegria que sente ao encontrar leitores nos eventos literários – desde professores até pais com bebês, que o procuram para tirar fotos porque pretendem um dia apresentar a obra aos filhos.  

“Quando eu escrevo eu não vejo o meu leitor. Quando ele vai ler, eu não estou do lado dele. Então, quando ele vem [aos eventos], é bacana a gente conhecer. Para mim é gostoso poder abraçar aquelas pessoas”, diz. 

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No bate-papo, o escritor lembra o início de sua carreira como escritor e reflete sobre o papel da literatura na formação de jovens e adolescentes. “Eu tenho a responsabilidade com a emoção. A ficção é emoção”, afirma. 

 

Brasília (DF), 18/06/2025 – Escritor Pedro Bandeira. Foto: Editora Moderna/Divulgação – Editora Moderna/Divulgação

Confira abaixo a entrevista: 

Agência Brasil: Como é participar de eventos como a Bienal no Rio de Janeiro e A Feira do Livro, e encontrar o público? 

Pedro Bandeira: Esse é o momento que você vai retribuir o carinho de professores e de bons leitores numa feira. É o livro, o autor e o leitor ali, juntos. Para o autor, é bacana, porque quando eu escrevo eu não vejo o meu leitor. Quando ele vai ler, eu não estou do lado dele. Então, quando ele vem [aos eventos], é bacana a gente conhecer. Para mim é gostoso poder abraçar aquelas pessoas. Vem muita professora que até chora porque foi minha leitora na juventude, agora entrega meus livros para os alunos. A gente abraça, beija, tira a fotografia. É bonitinho! 

Veio um casal com carrinho de bebê uma vez, um bebê muito recém-nascido. Ficamos do lado do carrinho para aparecer a criança na foto, para mais tarde mostrarem a foto para a criança, que estava dormindinho ali, com papai e mamãe ao lado e o escritor. Provavelmente o escritor não vai estar mais vivo quando aquele bebê for ler, mas eu sei que esse pai e essa mãe gostam, acham importante o filho ler, ser um bom leitor, tratar as suas próprias emoções através da literatura. 

Agência Brasil: Qual é o impacto da leitura e da literatura na formação e no desenvolvimento de crianças e jovens? 

Pedro Bandeira: A literatura trata daquilo que a escola não pode tratar e até a família pode pouco, ela trata de emoções. Não trata de razões, mas ajuda o amadurecimento do ser humano. Você não precisa ser traído para saber o que é o ciúme. Você pode ter lido Dom Casmurro, do Machado de Assis, ou o Otelo, de Shakespeare. Você sabe o que é o ciúme, sabe quanto ciúme pode ser prejudicial. Porque a literatura te ajudou a compreender isso. A arte ajuda no amadurecimento do ser humano. Eu tive essa sorte. Eu fui criado pelo livro. O livro fez minha vida, me ajudou a conhecer coisas, a tratar das minhas emoções, dos meus problemas de crescimento. Eu ficava lendo gibi, ficava lendo Monteiro Lobato, o livro do Tarzan. 

Tinha uma menina de São José dos Campos, que em 1984 me escreveu dizendo que não gostava de ler. E que, a partir do meu livro A Droga da Obediência, ela passou a gostar de ler. Uns quatro anos depois, ela me mandou uma carta discutindo o que ela estava lendo. Ela estava lendo Canaã, do Graça Aranha, e a Odisseia, de Homero. Você vê que de não gostar de ler até ler Homero, ela só precisou de 4 anos de treinamento. Isso me deixa muito contente. 

E, sabe, não existe mau livro. O livro ruim é aquele que você acha que é ruim, mas pode não ser ruim para mim. Deixa ler, ele precisa treinar. A leitura é como aprender a tocar violão, você precisa treinar. Só que você treina numa coisa gostosa, num livro divertido, num livro cheio de emoções, de aventuras e mistério, que é menos chato do que o livro didático, que não consegue ser tão gostoso quanto é a literatura. Na literatura é outra coisa, na literatura o leitor é autor. O leitor pensa, ele imagina. O livro não mostra a cara do personagem, não mostra todos os cenários, não mostra a expressão do personagem, o leitor vai criando isso. 

Agência Brasil: É como uma parceria entre leitor e escritor? 

Pedro Bandeira: O leitor, nessa hora, é um criador, ele é co-autor do livro. Isso é lindo! Eu sempre fui co-autor dos livros que li e fico feliz quando vejo observações de jovens sobre um livro meu que eu não tinha pensado. Porque ele pensou, então ele tem toda razão. Tem um menino de 11 anos que chegou para mim: “Pedro, que idade tem os heróis d’A Droga da Obediência?” Eu falei: “Hum, o que você acha?”. Ele: “Eu acho que tem 11”. Respondi: “Acertou”. Ele acertou, claro, ele se pôs no personagem. E ele está certo porque ele leu assim, e a forma certa de ler é a forma que eu leio. 

Eu posso achar que a Capitu [de Dom Casmurro] não traiu. Mas o Machado [de Assis] não tem nada com isso. Outro vai falar assim: não, claro que traiu, pobre do Bentinho. Está certo, ele leu assim, com a sua cabeça, com a sua imaginação, com os seus sentimentos, com a sua moral, com os seus preconceitos ou conceitos. Ler é um ato de liberdade. Muito mais do que o cinema, que eu, mas o cinema está tudo ali: a cara do ator, o cenário. Deixa pouco espaço para você pensar. A literatura é toda aberta para você pensar, o tempo todo você está viajando enquanto você lê. Quando criança, você viaja mais ainda. 

Agência Brasil: Gostaria que você contasse um pouco da sua carreira na escrita. 

Pedro Bandeira: Eu sempre vivi de escrever, sempre me sustentei, sustentei minha família escrevendo, quer como jornalista, quer como redator de matérias de revista como a Cláudia, [da editora] Abril. E eu fazia freelancer para escrever história infantil para uma revista, embora eu estivesse trabalhando nas revistas femininas. Era bom, um dinheirinho extra que ajudava. Mas eu não pretendia ser escritor, e nem infantojuvenil, nem nada. Eu achei que eu ia viver e me aposentar como um bom redator que eu era, redator de tudo, de publicidade. 

Comecei a fazer muito freelance de histórias infantis, porque eu cumpria prazo e tudo direitinho. Como eu cumpria, eu recebia muitas encomendas. E aí eu resolvi, já com quase 40 anos, fazer um livro infantojuvenil só meu. Sou quase irmão de sangue da Marisa Lajola, uma grande professora de literatura, que falou: “Pedro, hoje em dia as escolas estão adotando livros de literatura”. Eu falei: “Boa ideia”. Então escrevi um livro infantil e gostei muito de ter escrito. Fiquei feliz disso. Eu tive sorte que o mercado começou a gostar do que eu escrevi e falei: “vou abandonar meu emprego”, eu trabalhava na editora Abril, que foi grande, hoje nem existe. “Eu vou abandonar e vou viver sem patrão, sem empregado. Eu vou viver de escrever”. O livro ia ser um [trabalho] a mais, mas de repente não foi, o livro foi tudo. Saiu A Droga da Obediência e foi um sucesso nacional. Até hoje é o livro nacional juvenil mais vendido. Isso me permitiu, logo logo, em poucos anos, a nunca mais nem fazer freelancer e viver só de literatura. 

Agência Brasil: Quais são as especificidades da escrita infantojuvenil? 

Pedro Bandeira: Eu fui estudar, porque eu não entendia necessariamente de criança, eu não tinha feito pedagogia, não tinha feito psicologia, eu tinha feito Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Mas, a partir dali, eu fui estudar a psicologia do desenvolvimento para entender o desenvolvimento humano do nascimento até a idade adulta. Para poder fatiar essas fases e fazer livros adequados para cada faixa etária. Isso eu sou capaz de fazer. Você passa a entender o interior do teu leitor. Você escreve para quem? Para o interior do leitor, para suas emoções. Eu não quero ensinar nada para ele. Eu quero que ele pense. Eu quero ajudar no amadurecimento emocional e na autoestima do meu leitor. Por isso que eu gosto de escrever para o ser humano em desenvolvimento. 

Essa é uma profissão muito gostosa. Tem a responsabilidade, como a sua de jornalista, mas é diferente. Você tem uma responsabilidade com a verdade. Eu tenho a responsabilidade com a emoção. A ficção é emoção. Toda a literatura fala sobre emoção. O que falava o Machado senão sobre ciúme, em Dom Casmurro, sobre mediocridade em Memórias Póstumas de Brás Cubas? William Shakespeare falava sobre a dificuldade do amor, um amor impossível, sobre ambição, inveja, ele falava sobre até a velhice abandonada. As peças dele, todas falam de alguma emoção. Tratam de alguma emoção e sempre no limite, dramaticamente ou comicamente. Ele fala até sobre o feminismo em A Megera Domada. Imagina, naquela época, criticar o machismo. Vê como a literatura está sempre à frente. 

Agência Brasil: Com que leitura você tem se identificado recentemente? 

Pedro Bandeira: O Dom Quixote fala de mim, porque ele era um velho que não aceitava as coisas novas, ou não entendia as coisas novas. Eu não entendo as coisas novas. Eu tenho uma dificuldade, agora mesmo eu estou esperando que uma pessoa venha aqui me ajudar a usar a impressora, estou com problema e não consigo resolver. Então eu sou o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Ele há 400 anos me escreveu, eu sou aquele velho. A literatura é tudo! Sem ela, é mais difícil resolver os nossos problemas internos. Até pode, mas eu não sei como. 

 

*Colaborou Flávia Albuquerque 

 

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