Por EBC,
Uma onça-preta foi registrada pela primeira vez na Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante, Goiás. As imagens inéditas foram obtidas em março, abril e maio deste ano, por meio de armadilhas fotográficas.
Chamada de onça-pintada melânica (Panthera onca), a onça-preta tem os pelos mais escuros por causa de uma mutação genética que ocorre em apenas 10% da espécie. A descoberta é um indicador positivo para a preservação do animal, classificado como “vulnerável” pela Portaria 148/2022 do Ministério do Meio Ambiente.
“O melanismo é uma mutação genética que aumenta a produção de melanina — que faz com que o pelo do animal tenha coloração escura —, mas sabemos que, para que nasça uma onça melânica, é necessário que pelo menos um dos pais também apresente essa característica”, explica o biólogo Roberto Fusco, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
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O especialista reforça que a presença dessas onças é indício de conservação da área e do entorno.
“Por ser uma espécie guarda-chuva, que necessita de grandes territórios para sobreviver na natureza, proteger a onça-pintada gera efeitos positivos para muitas outras espécies e, consequentemente, para todo o ecossistema”, diz Fusco.
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A bióloga Mariana Vasquez, gerente da Reserva Natural Serra do Tombador, diz que os registros contribuem para aumentar o engajamento da comunidade local na conservação da natureza.
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“Sem dúvida, esses registros de animais raros chamam muito a atenção de quem vive e trabalha no entorno da reserva, reforçando a mensagem de que todos devemos nos empenhar para manter as áreas naturais bem conservadas”, diz Vasquez.
Maior felino
A onça-pintada é considerada o maior felino das Américas. No Brasil, está em maior concentração na Amazônia e no Pantanal. No Pampa, é considerada extinta. Nos outros biomas (Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica), as populações são menores e fragmentadas.
“A onça-pintada sofre com a perda de habitat causada sobretudo pelo desmatamento, mas também com a caça retaliatória, motivada por eventuais ataques a animais domésticos e de criação, e também com os impactos das mudanças climáticas”, diz Fusco.
“Os atropelamentos também se tornaram uma ameaça crescente, especialmente no Cerrado. É um desafio que afeta não apenas as onças, mas diversos outros animais silvestres que vivem no bioma”, acrescenta Mariana.
Segundo os especialistas, as onças percorrem longas distâncias a procura de alimento, abrigo, proteção e locais para reprodução.
“São animais solitários, que permanecem com a mãe apenas até os dois anos de idade, e podem se deslocar por uma área que pode ultrapassar 50 mil hectares”, diz Fusco. “Por isso, é tão importante que as unidades de conservação sejam fortalecidas e que existam corredores ecológicos, garantindo a conservação não só das onças, mas de diversas outras espécies da fauna”.
Área de conservação
A Reserva Natural Serra do Tombador é uma área de conservação com 8.730 hectares. É uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), criada e mantida há 20 anos pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
A unidade não é aberta à visitação pública. Recebe apenas pesquisadores que estudam a conservação da biodiversidade, da ecologia do fogo e do Manejo Integrado do Fogo (MIF). Já foram registradas 437 espécies de plantas e 531 espécies de animais na reserva.
A reserva é considerada uma Solução Baseada na Natureza (SBN), por contribuir para proteção de recursos hídricos, regulação do clima e fixação de carbono no solo. Também tem papel complementar na proteção da fauna da região da Chapada dos Veadeiros.