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Artesão e violeiro mantêm viva tradição da viola de cocho no Pantanal

Por EBC,

Reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2004, a viola de cocho é um dos símbolos mais autênticos da identidade da região do Pantanal. Esculpido em um único tronco de madeira, o instrumento está presente em manifestações como o cururu e o siriri, cantos e danças que atravessam gerações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

A confecção artesanal é registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como um saber a ser preservado. Não há duas violas iguais: cada artesão molda a peça conforme o braço e a forma de tocar de quem a usará. Antes feitas com cordas de tripas de animais, hoje utilizam nylon, mas continuam produzindo a sonoridade peculiar que diferencia o instrumento.  

O artesão

Um dos principais guardiões dessa tradição é o mestre Alcides Ribeiro dos Santos, fundador do Museu da Viola de Cocho, em Santo Antônio do Leverger (MT), cerca de 40km distante da capital Cuiabá. 

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Descendente de quatro gerações de violeiros e cururueiros, Alcides aprendeu ainda jovem a transformar troncos em música.  

“Cada instrumento é único. A madeira guarda a alma do Pantanal”, diz o artesão, reconhecido como Mestre da Cultura Popular de Mato Grosso desde 2012. 

No ateliê mantido pela família, Alcides produz violas para músicos e peças decorativas. O processo de produção de uma peça pode levar até dez dias, do entalhe à finalização. Segundo ele, a tradição se consolidou a partir de adaptações da guitarra portuguesa. 

“Ela vem da guitarra portuguesa. O formato é diferente, mas a afinação é a mesma. Aqui a madeira era abundante e, com as ferramentas usadas para escavar canoas e cochos, surgiu a viola. O pesquisador Roberto Corrêa a classificou como um som de veludo, porque é um instrumento fechado e dá um som maravilhoso”, explica.

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Santo Antônio do Leverger (MT), 05/09/2025 – Viola do artesão Alcides Ribeiro dos Santos, fundador do Museu da Viola de Cocho. Foto: Marieta Cazarré/TV Brasil – Marieta Cazarré/TV Brasil

O violeiro 

Outra figura importante para manter firme a tradição pantaneira é Roberto Corrêa –  violeiro, compositor e pesquisador. Mineiro, radicado em Brasília desde 1975, ele ajudou a difundir a viola de cocho em universidades, concertos e festivais dentro e fora do país. 

Em entrevista à TV Brasil, Corrêa conta que conheceu Alcides ainda criança, quando esteve no Mato Grosso para pesquisar sobre a viola de cocho em 1979. 

“Tenho uma viola que foi construída por Manoel Severino, que era parceiro do pai do Alcides, o Seu Caetano. Conheci o Alcides ainda pequenininho, aprendendo com eles a arte da construção do instrumento. É um instrumento muito singular, e tocar essa viola me remete a lembranças de pessoas queridas que conheci lá atrás, na década de 70”, conta. 

Para o violeiro, uma das melhores descrições do som desse peculiar instrumento foi dado por Manoel de Barros. “O Manoel de Barros, que é um poeta lá do Mato Grosso do Sul, do Pantanal, ele tem um poema que fala nos sons gotejantes das violas de coxo. Então é isso, um som das águas”, descreve.  

Corrêa publicou, entre outros, o livro Viola Caipira, o primeiro no Brasil sobre o instrumento, e A Arte de Pontear Viola, no qual apresenta seu método de ensino. Nesta sexta-feira, seu novo EP, “Solos de Unha e Carne”, foi lançado em todas as plataformas digitais. 

*A jornalista viajou a Santo Antônio do Leverger a convite do Sebrae, como parte do Prêmio Sebrae de Jornalismo concedido em 2024 pela reportagem especial O Valor do Lixo, da TV Brasil. 

 

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